domingo, 13 de outubro de 2013

PASSOS COELHO ACUSA COMENTADORES DOS «CHOQUES DE EXPECTATIVAS»

O primeiro-ministro que temos, Pedro Passos Coelho, apelou aos economistas e comentadores para que ajudem a «reposicionar as expectativas dos portugueses» (seja lá isso o que fôr), pois a execução das medidas de austeridade contidas no Orçamento de Estado para 2014 pode gerar um novo «choque de expectativas que comprometeria os méritos e os sucessos» do programa de ajustamento financeiro imposto pela «troika» e aceite de bom grado pelo governo.
É verdade. Passos Coelho, gestor medíocre e economista de meia-tigela, ousou dizer isto, sem se rir, ao discursar na sessão de abertura do congresso da Ordem dos Economistas, em Lisboa. Tentando sacudir a água do capote - porque este governo continua a não se sentir responsável por tudo o que de mau está a acontecer ao país e aos portugueses nos últimos dois anos dois anos - o primeiro-ministro atreveu-se a sugerir responsabilidades alheias: «Sabemos a influência que as expectativas desempenharam na composição recessiva que enfrentámos em 2012».
Perante o contexto de crise e de austeridade, o nível de poupança dos portugueses aumentou, ao mesmo tempo que caiu o consumo privado. Apesar de defender que este aumento de poupança «não é negativo», Passos Coelho afirmou que as novas medidas previstas no Orçamento do Estado para 2014 podem, contudo, gerar um novo «choque» - por causa do que dizem os comentadores, os economistas, os órgãos de comunicação social em geral, acerca das políticas de austeridade postas em prática pelo governo.
«Numa altura em que estamos nas vésperas de apresentar o OE para 2014, que traduz os compromissos que assumimos com os nossos credores internacionais [...], é evidente que a execução das medidas previstas podem gerar novo choque de expectativas», disse o primeiro-ministro, sugerindo que isso é mau para o governo e para «os nossos credores internacionais» (que são gente muito digna de respeito, só lhe faltou dizer).
Passos Coelho deu como exemplos o ajustamento dos salários no sector público e a convergência das pensões, que foram «apresentadas no espaço público de uma forma que contraria as expectativas da generalidade dos agentes», em vez de recentrar o debate no cumprimento dos objectivos do programa. Caso para perguntar: quem terão sido os mariolas que se atreveram a estragar a festa dos cortes nos salários e nas pensões?!
«Espero que este congresso seja uma forma de colocar de lado as falsas ideias – e ajudar a um reposicionamento das expectativas dos portugueses», enfatizou Passos Coelho, salientando que «nunca a fasquia esteve tão alta», e rematando, num acesso de megalomania: «Confio que o país dará o exemplo à Europa e ao mundo, de que se falará durante muito e muito tempo».
Decididamente, o homem endoideceu e não se enxerga, dando instruções aos economistas, aos comentadores e à comunicação social em geral, sobre a forma como devem debater e comentar as políticas do governo, dado que este não é capaz de as defender adequadamente...

MUTUALIZAÇÃO DA DÍVIDA REDUZ AUTONOMIA NACIONAL
 

Perante um auditório cheio, no CCB, o primeiro-ministro admitiu que «alguma modalidade de mutualização da dívida a nível europeu possa tomar forma no futuro». Mas alertou que um cenário destes traz consequências e custos que passam por uma «automática centralização do poder político e decisório nas instituições europeias, em detrimento dos órgãos representativos nacionais». «Não gozaremos certamente de mais autonomia para efectuar as nossas próprias escolhas nacionais», salientou Passos Coelho, e logo ele que preside a um governo que há mais de dois anos mandou às malvas qualquer resquício de autonomia e se roja aos pés da «troika» com a subserviência característica dos «colaboracionistas» e dos escravos.
Passos Coelho afirmou que «este é o momento da verdade» (depois de tantas mentiras?), e requer «um Estado forte e ágil» (que ele, até agora, se tem incumbido de enfraquecer e desmantelar). Em mais um vergonhoso recado indirecto ao Tribunal Constitucional - que chumbou, e bem, medidas como o sistema de requalificação dos funcionários públicos e normas de alteração ao Código do Trabalho - o medíocreprimeiro-ministro que temos sublinhou que «um Estado no fio da navalha e da ruptura de financiamento, amarrado pela rigidez nas suas possibilidades e na sua organização, tem muito maiores dificuldades em cumprir eficazmente as funções que os cidadãos justamente reivindicam». Estão em jogo os «valores da previsibilidade e da coesão» (?!) do «sistema político-constitucional», atreveu-se ele a afirmar.
Criticando as «propostas demagógicas e simplificações enganadoras», Passos Coelho sublinhou que é um imperativo «não confundir desejos com a realidade». O futuro pós-troika também mereceu um lugar no discurso deste primeiro-ministro «mãos-de-tesoura», que antecipa novos cortes na despesa: «Precisamos de ir mais longe na redução permanente da despesa pública», rematou.

2013.10.08

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