quarta-feira, 16 de outubro de 2013

«CORAÇÕES DE PEDRA» ATACAM DE NOVO! É URGENTE TRAVÁ-LOS!

1 - A actual política de sujeição dos países da Europa do Sul ao império da «troika» e ao diktat financeiro e orçamental alemão significa um profundo desprezo pela inteligência dos súbditos e uma condenação à morte das respectivas economias.
Atente-se, no caso português, no exemplo do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, cujo ridículo patriotismo de lapela não consegue esconder a germanofilia financeira e orçamental que faz dele uma espécie de «Gauleiter», designação alemã para um chefe provincial que desempenha funções equiparáveis às de um Prefeito ou Governador civil.
Atente-se, também, no exemplo da sua pobre ex-professora e actual ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, tão incompetente, insensícvel e cruel como o seu ex-aluno, e adepta fanática do neoliberalismo – ou do ordoliberalismo, se quisermos acentuar a sua sujeição à doutrina germânica – e que pretende estar para Passos Coelho como Wolfgang Schäuble para Angela Merkel,
Atente-se, ainda, nos vários ministros deste governo (tanto os anteriores como os actuais), todos eles políticos e/ou tecnocratas duros e perversos, com «corações de pedra» e mentes embotadas, indiferentes ao sofrimento de milhões de cidadãos cada vez mais empobrecidos pela austeridade brutal que tão detestáveis criaturas preconizam e impõem, mas não praticam.

2 – Fui buscar a expressão «corações de pedra» ao livro de John Maynard Keynes sobre «As consequências económicas da paz», publicado em 1920, devastadora crítica da Conferência de Versalhes e do Tratado que ela produziu, impondo à Alemanha derrotada na Grande Guerra «cláusulas de reparação» terrivelmente punitivas e humilhantes, impossíveis de pagar.
Keynes participara na conferência como representante do Tesouro (Ministério das Finanças) britânico, apresentando um plano alternativo bem mais inteligente e razoável do que aquele que acabou por vingar. Por isso demitiu-se e denunciou, no seu livro, o misto de ingenuidade política, boas intenções (Woodrow Wilson, EUA) e espírito de vingança (Clemenceau, França) que se sobrepuseram aos reais interesses «da Humanidade e da civilização europeia».
Como é sabido, o Tratado de Versalhes provocou enorme ressentimento entre os alemães e produziu terríveis consequências: inflação galopante; pobreza e caos social; ascensão de Hitler ao poder, em 1933; participação da aviação nazi, ao lado dos fascistas (o bombardeamento de Guernica é um terrível símbolo), na Guerra Civil de Espanha (1936-1939); e a eclosão da II Guerra Mundial, que iria devastar a Europa e parte da Ásia e da Oceânia, entre 1939 e 1945.
No ano passado, o presidente da Confederação Europeia de Sindicatos enviou uma carta à Comissão Europeia, comparando os juros dos empréstimos da «troika», mais os brutais planos de austeridade e privatizações, às «cláusulas de reparação do Tratado de Versalhes», reduzindo os países membros da zona euro sob resgate a «um estatuto quase colonial». Ninguém o ouviu: nem Durão Barroso, nem Merkel, nem Schäuble, nem Gaspar, nem Passos Coelho. Preferiram apostar, perfidamente, na sujeição dos países em crise ao dogma ultra-liberal. 

3 – Querem impor aos portugueses - tal como aos gregos, espanhóis, irlandeses, cipriotas, e outros mais - um regime político não previsto nas respectivas Constituições. Esse regime tem um nome: neoliberalismo de Estado de fachada democrática. É que, ao invés do que proclama a sua ideologia, o neoliberalismo está muito longe de implicar o desaparecimento do Estado (no sentido anarquista ou libertário).
Bem pelo contrário, para os fanáticos neoliberais que estão no poder, o Estado tem de desempenhar um papel porventura novo, mas não menos fulcral, que consiste em impor um contexto favorável aos negócios – isto é, às grandes empresas e ao sistema financeiro – tanto interna como externamente, inclusive derrubando pela força regimes e estruturas sócio-económicas tradicionais.
O seu ideário está resumido na fórmula «D-L-P», que significa: i) Desregulação (da economia); ii) Liberalização (do comércio e indústria); iii) Privatização (das empresas do Estado). Há quem já não se lembre dos primeiros «laboratórios» do neoliberalismo: o Chile de Pinochet e dos «Chicago Boys»; o Brasil da ditadura militar e de Delfim Neto; a Argentina da junta militar e de Domingo Caballo. Longe vá o agoiro!
Keynes prognosticou, com enorme lucidez, as desastrosas consequências de uma austeridade cega e brutal, que provoca a pobreza e o caos social e ameaça destruir o que também ele designava por «civilização europeia». A política posta em prática por «corações de pedra» é, acima de tudo, estúpida e criminosa. É preciso travá-la já!
Infelizmente faltam, em Portugal e na Europa, figuras com coragem política, lucidez intelectual e estatura moral, para enfrentar os fanáticos do neoliberalismo e do «darwinismo» social que teimam em promover a «selva», destruir o Estado social e fazer regredir a Europa quase 70 anos.

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