sábado, 12 de outubro de 2013

OS «BONS», QUANDO VENCEM, NUNCA COMETEM CRIMES DE GUERRA

Foi por ter lido um livro terrível, «História Natural da Destruição – Guerra Aérea e Literatura» (2003), do grande escritor alemão W. G. Sebald (1944-2001), sobre a devastação causada na Alemanha por cerca de um milhão de toneladas de bombas incendiárias e explosivas lançadas pelos aliados nos últimos anos da II Guerra Mundial, que resolvi comprar a edição em espanhol (não sei patavina de alemão) do livro «El Incêmdio – Alemania bajo los bombardeos 1940-1945», do historiador alemão Jörg Friederich (Berlim 1944), que também investigou os delitos de Estado e os crimes de guerra cometidos pelo nazismo, colaborou na «Enciclopédia do Holocausto» e produziu várias séries de televisão sobre criminologia da guerra, tanto terrestre como aérea.
Os bombardeamentos que assolaram a Alemanha durante a II Guerra Mundial não têm paralelo na História. Mais de mil cidades, vilas e aldeias foram bombardeadas. Trinta milhões de civis – na sua maioria velhos, mulheres e crianças – sofreram os efeitos de cerca de um milhão de toneladas de bombas incendiárias e explosivas. Morreram mais de um milhão de pessoas e perdeu-se para sempre grande parte do património cultural e urbanístico alemão, construído e moldado desde a época Medieval.
Até há poucos anos, nenhum relato histórico tinha proporcionado uma narrativa com a verdadeira dimensão dos factos e o destino concreto das vítimas. Jörg Friedrich veio colmatar essa falha com esta obra em que descreve a campanha de destruição que os Aliados, britânicos e norte-americanos, planearam minuciosamente e executaram sistematicamente, arrasando cidades, vilas e aldeias alemãs. Aliás, como salienta W. G. Sebald, «o Bomber Command tinha o homem que, segundo Solly Zuckerman, acreditava na destruição pela destruição» –  Sir Arthur «Bomber» Harris – «em perfeita sintonia com o princípio intrínseco das guerras, que é alcançar a completa aniquilação do inimigo juntamente com as sua habitações, a sua história e o seu ambiente natural». Para além de arrasar edifícios e matar pessoas, o grande objectivo de Sir Arthur era «destruir o moral da população civil do inimigo e, em especial, dos operários das indústrias».
A partir das inúmeras fontes a que teve acesso, Jörg Friedrich relata o desenvolvimento e aperfeiçoamento das bombas, os seus efeitos devastadores sobre o terreno, a experiência traumática das populações refugiadas em «bunkers» e caves, as mortes causadas pelo calor asfixiante, pela pressão brutal das deslocações do ar e pelos gases tóxicos (sim, gases tóxicos!) e pelo ruir de uma herança cultural de uma riqueza incomensurável.
Embora nos regozijemos com a vitória dos Aliados sobre a Alemanha nazi e o Japão militarista na II Guerra Mundial, e embora os «bons» nunca sejam acusados de cometer crimes de guerra, quando vencem, convém que não viremos as costas aos horrores da guerra causados, em nome da lei de Talião, tanto pelos «maus da fita» como pelos «bons» que os combatem…

2013.08.26

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